Na segunda feira passada tive uma notícia que realmente me arrasou... Definitivamente não pude acreditar.
Derretido de emoções, devido a problemas “pouco passados”, e vendo a necessidade de contá-lo que estava certo, fui a casa do Cara. Queria informar-lhe que as flores da orquídea da minha casa acabaram de cair e que fatos estranhos surgiram logo após a última pétala encostar no chão.. Cheguei à porta de seu prédio e toquei o interfone a fim de convocá-lo a uma conversa amistosa, já que a última que tivemos, não fora nada convidativa e pouco exacerbada. Chamei-o pelo menos 12 vezes até que o porteiro desceu as escadas e veio falar comigo. Me reconheceu e demonstrou um rosto estranho, talvez por ter lembrado da vez que cheguei na porta do prédio desesperado, em plena chuva monstruosa que caíra na época, e com cara de mendigo abandonado, ensopado, pedira para entrar e ver meu amigo. Encostou-se no portão de entrada e permaneceu a me olhar. Perguntei a ele pelo Cara e logo ele me disse que ele já não morara ali e que seu apartamento estava a venda.
- Mas como estaria a venda? Ele amava aquele lugar, dizia que seus cômodos contavam tantas histórias que gostava de recordar. Como a vez que nos conhecemos e logo ele me apresentou sua casa, de como eu estava assustado, das noites de vinho e chapa quente e de como se vislumbrava ao me ver cozinhar...
Questionei o porteiro quanto a sua certeza e o mesmo apontou a placa de vende-se no seu andar. Ainda sim não acreditei em nada do que ele disse, imaginei a maior traquinagem do mundo e que no final iríamos rir deste desencontro.
Sem muito entender, liguei para casa de seus pais, que por sinal estava ocupado o tempo todo... Não poderia deixar esta inquietação, peguei meu carro e corri até a casa de seus pais para saber o que acontecera, onde ele estava.
Na porta, vi que as coisas não estavam dentro do normal, o jardim de sua casa não era o mesmo, a grama estava seca, mórbida e as flores que ali pairavam, simplesmente estavam murchas. Bati a campainha e fui logo recebido pela empregada que me olhou com a maior cara de pena possível. Guiou-me até a sala onde fui recebido pelo pai dele e sua irmã. Muito assustado eu perguntei pelo Cara, com um sorriso receoso e esperançoso para receber uma frase brincalhona. Obrigaram-me a sentar, mandaram a empregada buscar um copo com água e velozmente o tive em minhas mãos. Comecei a tremer, sabia que daquele momento não tiraria qualquer retorno positivo de sua família, já esperava o pior. Me desesperei.
Fui informado de que ele havia morrido há uma semana, enquanto retornara de uma viagem de carro proveniente do interior de Minas. Senti meu sangue descer todo para as pernas e por um minuto perdi o contato com o mundo, estava ali flutuando em plena sala de estar do meu amigo que agora era dado como morto, como se nunca tivesse existido.
- E agora? O que faria sem ele? Como continuaria minha vida? Mesmo sem conversarmos, ainda sim sentia sua presença, sabia que ele estava ali! Mas e agora? Um pó? Tudo se foi assim?
Logo questionei o porque de não ter sido informado antes, já que havia uma semana após o acontecido. O pai e a filha se olharam e não souberam informar. Calei-me por um longo período. O pai, com os olhos cheios d’água, me abraçou, levantou e subiu as escadas, sabia que não poderia controlar seu choro e não o queria demonstrar a mim, graças a figura de homem que deveria perpetuar ali naquela família. Sua irmã, com olhos de consolo e fervorosos de água, apenas me amparou.
Ela me disse que ele não sofreu, que havia morrido em pleno impacto com outro carro que vinha na contramão, que o funeral aconteceu as pressas e seu corpo havia sido cremado e jogado em seu lugar predileto, que por sinal ele me levou lá uma vez, bem no topo de um mirante particular, que ele nomeara “Nosso”. Não agüentei a pressão naquele momento, chorei muito, perdi o controle e quase o ar. Não era justo! Nada é justo!
Não sei se foi para me confortar ou para me deturpar ainda mais, mas ela me disse que antes dele viajar, o encontrou no computador dela, lendo o post que fiz para ele em meu blog, com lágrimas escorrendo pelo rosto, disse que estava criando coragem para voltar a falar comigo, que havia feito a maior burrada em sua vida e que abrir mão de mim por uma escolha idiota que fiz não era justo.
Não acreditei no que ouvi, em nada, para falar a verdade. Meu amigo, meu melhor amigo, agora estava morto e nunca mais o veria, seus olhos amadores, seu rosto aconchegante, seu abraço amistoso, suas mãos afagando meu cabelo, acalmando-me das escolhas equivocadas que me descontrolavam, simplesmente se tornaram pó e jogados em um lugar para simbolizar uma mera lembrança.
Jesus.
Tudo dói por dentro, mas não sai mais nada para fora. Sem me despedir, sai correndo, peguei meu carro e vim para casa. Não havia ninguém aqui, então, chorei o quanto podia, bebi grande parte das bebidas que continham álcool e fui dormir, não queria ver as próximas cenas desta m*&*#.
Meu Deus! Como isto pôde acontecer?! O Cara que tanto me ajudou! Que me amava de paixão, que mesmo sob diversas condições, me manteve sob suas asas, me protegendo contra qualquer um. Ele iria voltar a conversar comigo se estivesse vivo hoje! De verdade!
Ainda não acredito que esteja morto. Não mesmo. O Cara que me flertou no restaurante há anos atrás, que foi o único que me confortou no enterro do meu avô, que me levou a lugares que nunca irão me levar, que sabia o que eu pensava, que me ensinou a comer Gummy Bear assistindo a filmes de romance, estava reduzido a pó.
Ainda, deitando na cama antes de dormir de embriaguez, lembrei exatamente de como havia sido o dia em que ele me levou no lugar que intitulava “Nosso”. Foi quanto ainda estávamos tendo um relacionamento amoroso, ele pegou seu carro no sábado pela manhã e logo ouvi sua buzina de dentro do meu quarto. Levantei correndo e fui à porta. O Cara! Arrumei-me e pulei no banco do passageiro, ao seu lado, fomos a destino algum, pelo menos eu pensava. Mas no fim das contas paramos em uma cidadezinha daqui de Minas mesmo e curtimos todo o dia no centro da cidade. Percebi que ele havia comprando diversos quitutes e um pano. No fim da tarde, entramos no carro e fomos para um local cuja vista era estrondosa. Paralisei-me ao descer do carro de tão surpreso e impressionado pela vista que observara. Retirando o que havia comprado do porta malas, estendeu um sorriso vigoroso e chamou-me para sentar-se próximo ao desfiladeiro a seguir, encima da grama verde que cobria o local. Ele estendeu o pano no chão, abriu as guloseimas que havia comprado e me ofereceu tudo na boca. Enquanto isso, o lindo e único Sol, se desfazia através das montanhas, a coloração vermelha começara a tomar conta das nuvens e a brisa vinha em meu corpo agradavelmente. Foi o momento exato em que o admirei, quase deitado no pano, apoiado em seu braço direito, ele me flertou por um tempo e depois disse que me amaria para sempre, permaneceu em silêncio a me olhar. Desejei que tudo aquilo durasse para sempre...