quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Entre a Chuva e a Exaustão


Que saudade do Cara...
 
Depois de três semanas se tornarem um tabu diferenciado, enovelado entre outras milhões de farpas e coerências fundamentadas em absolutamente nada, digo, nada mais, resolvi sentar e escrever, escrever alguns sentimentos guardados em mim que não lembrara há algum tempo, acho que por estar sufocado pelo sentimento medíocre que eu tinha pelo Husky Siberiano. Sem espaço para viver, sofrer a perda do Homem que mais me fez feliz até hoje, sem cobranças, sem pressões e com uma sutileza extremamente singela...
 
Correndo hoje em pleno temporal em meio ao semi escuro de um lugar que para mim tornou-se extremamente familiar, lembrei-me do Cara, meu melhor e maior amigo, o Cara que mais me fez feliz nestes últimos 12 anos de vida. Aquele que me acompanhara em minha jornada de vida “árdua”, nos momentos de decepção, de felicidade, de angustias, de vitórias, sempre ao meu lado, mesmo eu não percebendo, ele estava lá, trazendo aquele incomensurável sorriso gostoso que iluminava todo meu caminho, me fazendo sentir alguém realmente amado.
 
Lembro de certa vez em que estávamos deitados em sua cama, em uma noite de verão com grandes estrelas a mostra no céu, após uma noite de vinhos refinados que ele me havia proporcionado, depois de assaltar a adega de seu requintado Pai. Permanecemos ali deitados escutando Oasis, ambos de roupas de baixo, envoltos por um lençol branco e suave. Deitei em seu braço que estava aberto, aguardando qualquer atitude minha, como uma ratoeira aguardando apenas um movimento favorável para abocanhar aquele rato que por ali passara. Olhei para ele, apenas apaixonado pelo meu melhor amigo, mas apaixonado não no sentido franco da palavra popularmente vulgarizado, mas apaixonado, encantado por ter um amigo tão franco em toda minha vida, um Cara que me queria de qualquer forma, sem pudor qualquer. Ele olhava para mim com uma face tão absurdamente estarrecida de tanto sentimento bom que havia dentro dele, referindo-se a mim, parecia que queria me abraçar, me dar todo carinho do mundo para me ver feliz.
 
- O que você faria se eu morresse, Thinker?
 
- Porque está falando isto? Somos tão novos para morrer! Não quero pensar nisto, não vai acontecer!  - Pensei um pouco, percebi algum interesse no ar e retornei a pergunta. - O que você faria se eu morresse?
 
- Eu iria junto com você. Não suportaria ver a pessoa que mais amo nesta vida partir sem mim, seria egoísmo demais, não só por sua parte, mas por Deus também, em lhe querer longe de mim e mais próximo dele.
 
Assustado com o que acabara de ouvir, duas lágrimas escorreram de meus olhos. Não sabia o que falar, mas sabia que nunca haviam falado isto comigo da forma que havia ouvido, com tanta sinceridade e sentimento embutido em uma só voz.
 
Às vezes me pego pensando no que seria melhor para mim hoje, ter acatado todo seu amor e vivido com ele o resto de minha vida de uma forma feliz, mas sem ter certeza de meus sentimentos, ou fiz a escolha certa, perder o Cara que hoje percebo ter mais amado como Homem, como um amigo, como um grande amor que não deixei aflorar com medo de estragar tudo, toda nossa amizade? Será que teríamos vivido felizes? Será que teríamos ido morar juntos? Vivido amistosamente, sem ofender um ao outro com palavras deploráveis como vivi há pouco?
 
Sinto hoje a dor da perda do meu amigo, pois, depois da grande enchente, me resta um grande rombo, maior que o Challenge Deep, quem sabe 2 vezes maior que ele... Não consigo esquecer tudo que passamos, nossos 12 amos de amizade, de amor, de felicidade, de choros consolados, de paz, de cumplicidade, de descobertas, mesmo as mal feitas, mas descobertas progressiva que nos enlaçava cada segundo mais, fazendo com que nos apertassem a ponto de não nos desgrudarmos mais, quem sabe se tornando apenas um...
 
E neste dia, após perceber meu retorno sobre o que havia me falado, ele afagou meu cabelo e disse o quanto me amava pelo que eu era, por tudo que havia feito com e por ele, por tê-lo tirado daquele mundo vicioso que todos gostavam de viver, a alienação soberana. Me acertou um beijo nos lábios sem eu ter tempo de qualquer reação. Apenas senti seus lábios contra o meu, em busca de realização, união entre duas pessoas a ponto de nunca mais se separarem. Compreendendo o sentido daquilo tudo, me senti feliz, feliz por perceber que ele sentia a necessidade de sermos apenas um, como eu sentia. Vendo-o sorrir pela minha reação de admiração, deitou dorsalmente e me convidou a deitar em seu peito, batendo levemente com a mão em seu peitoral. Apoiei minha cabeça ali e senti seu coração bater aceleradamente, sua respiração acelerar, seu corpo umedecer rapidamente, esboçando um leve suor nada desagradável. Era ele, o Fernando, meu amigo, deitado comigo por toda eternidade em meus pensamentos, mesmo sentindo nunca mais vê-lo, mas ainda esperando a oportunidade ingênua de encontrá-lo um dia na rua e rirmos de tudo isto, ou simplesmente acordar com ele ao meu lado no dia seguinte e rirmos de todo este pesadelo.