Hoje, acabada a aula que eu havia
lecionado na Faculdade, no caminho para casa, não sei o que me ocorreu, mas me
veio um “estalo” na cabeça, um “frio” na barriga e a primeira coisa que veio em
minha mente foi a música “Jack” , sim, esta que deve estar tocando aqui agora.
Nossa! Mas quantas lembranças! Liguei
o Spotify do celular, conectei
brevemente ao rádio do meu carro e quando o som começou a tocar, fui forte, resisti
ao choro, um choro de saudade do Fotógrafo, do momento em que nos conhecemos e
a vida naquela época. Tudo muito mais fácil, éramos muito infantis, eu com sentimento
tão puro e besta, fora a ingenuidade de buscar por um amor verdadeiro e etc...
Sabe que a letra dessa música
lembra mesmo nosso relacionamento? Ele apareceu do nada, foi rápido ao me
conquistar, permaneceu por pouco tempo em minha vida e nos demos um “tiro” no
meio do caminho, “matando” nosso relacionamento. Mas ele me fez sentir algo que
até hoje marca muito, que me faz falta: a simplicidade. Ele era um cara interiorano,
havia acabado de descobrir sua sexualidade e escondia isto de todos de sua
pequena cidade, quando vinha para a capital me encontrar, a conversa era outra.
Com um rosto de menino, sotaque mineiro carregado, simples e olhar sincero
(pelo menos transpôs isto), ele me conquistou de primeira. A cada encontro eu
ficava mais apaixonado, queria viver ao lado dele para sempre e o amor - Ou apaixonite, não é? - era
incondicional, ficava “ceguinho”.
Para se ter uma ideia, uma vez
ele veio aqui na capital e saímos para uma danceteria hetero e beijamos na
frente de todos, aquele "beijasso" de horas a se admirar no meio da pista, na
época, a diversidade sexual estava não muito popular e nem muito aceita pela
sociedade de modo geral, não era comum! Aí, imaginem o que todos do lugar fizeram????
Bom, a verdade é que não me importava o que pensavam ou falavam, gostava tanto
dele que era capaz de fazer muita coisa que hoje penso muito antes de fazer.
Confesso que quando olhava para
ele, lembrava de um filme que assisti em 2008 chamado Novemberkind, um dos
personagens era a cara dele, era um rapaz bem claro, com olhos castanhos
escuros, cabelos rentes ao couro cabeludo, uma boca voluptuosa e vermelha
sangue e um olhar tão impressionante que dava para ficar apreciando-o durante
horas. Digo, um olhar que transpunha a mim o sentimento melhor que ele tinha.
- Nossa, Mister Thinker.... Mas você está encalhado até hoje e por isso
pensa no Fotógrafo?
Na verdade não, fazem quase quatro
anos que me relaciono com um cara que me completa como um adulto, quase nunca
discutimos (4 vezes em quase quatro anos), confiamos um no outro de “olhos
fechados”, o vejo como o mais bonito, inteligente, amoroso, companheiro, etc. Porém, os sentimentos são diferentes, este é um amor adulto, algo composto por limites,
racionalidade e nossos contextos sociais (dinheiro, família, nome a zelar,
etc...). Não dá mais para sair beijando na rua, andar de mão dada, fora as
cicatrizes que adquirimos com o tempo e fazem a gente perder grande parte da
ingenuidade, além disso nosso pensamento, com a idade, se torna sagaz, frio e
calculista, além de pretensioso e, às vezes, preguiçoso. O sentimento que tinha
pelo Fotógrafo era algo mais desenfreado e muito ingênuo, sabe? A saudade era
porque eu era mais livre e fazia, falava o que queria, não me importava com
luxo, nem lugares requintados para se ir, sabia escrever e transpor minha essência,
mesmo com erros ortográficos (Não posso ignorar isto... Mas haviam erros porque
nunca gostei de revisar texto meus, mesmo minha dissertação de mestrado eu não
fiz isso, morria de preguiça... rs).
Há quase quatro anos atrás o vi novamente pelo mundo afora, já não mais inocente, estava com o olhar diferente, condutas opostas ao que conhecia, percebi que as galinhas já haviam provado da sua carne. Entristecido depois de constatar tudo isso e internamente abalado, conversamos um pouco e logo nos despedimos. Era o fim do Fotógrafo para mim, quem eu achava que teria os resquícios do jovem que me fez ir em direção ao caminho para a Lua, simplesmente começara a esmaecer, a se tornar um desconhecido.
Embora estas constatações, ao
menos o meu sentimento por ele ainda perdura, as lembranças de nós dois andando
pela Lagoa numa tarde na cidade, o despertar com ele ao meu lado, os diálogos
agradáveis que tínhamos durante horas... Foi muito pouco tempo, mas tudo muito
denso, cheio de detalhes marcantes que me fazem hoje ter a vontade de abraça-lo
saudosamente e dizer ao pé do seu ouvido “Quanto tempo eu não te via, Jack!
Estimo o melhor a você”.
PS: Obrigado pelos comentários do post anterior, foram de grande valia e me fizeram voltar a pensar em meu blog que completa quase uma década.