Sem grandes pretensões — talvez em busca de ar ou apenas de um pouco de silêncio antes do dia começar, olhei para o céu ao final da madrugada. Mas o que encontrei foi um presente: de um lado, a lua ainda firme no céu, discreta em seu posto noturno. Do outro, o sol rasgando o horizonte, tímido e ainda morno. Era como se o mundo não tivesse decidido se ainda era noite ou já era dia. E eu, ali no meio, suspenso.
Lembrei de Ismália, o poema de Alphonsus Guimarães. Da mulher que, ao ver a lua no céu e no mar, enlouquece de tanto desejar o inatingível. Ela queria tudo: o alto e o fundo, o brilho e o abismo. E como não coube em si, lançou-se — sua alma subindo ao céu, seu corpo descendo ao mar.
Mas hoje, diferente de Ismália, eu só contemplei. Não quis voar, nem cair. Apenas vi. E ver foi suficiente.
Há dias em que a beleza não nos exige um gesto. Só presença.