quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O "Nosso" Lugar


Na segunda feira passada tive uma notícia que realmente me arrasou... Definitivamente não pude acreditar.

Derretido de emoções, devido a problemas “pouco passados”, e vendo a necessidade de contá-lo que estava certo, fui a casa do Cara. Queria informar-lhe que as flores da orquídea da minha casa acabaram de cair e que fatos estranhos surgiram logo após a última pétala encostar no chão.. Cheguei à porta de seu prédio e toquei o interfone a fim de convocá-lo a uma conversa amistosa, já que a última que tivemos, não fora nada convidativa e pouco exacerbada. Chamei-o pelo menos 12 vezes até que o porteiro desceu as escadas e veio falar comigo. Me reconheceu e demonstrou um rosto estranho, talvez por ter lembrado da vez que cheguei na porta do prédio desesperado, em plena chuva monstruosa que caíra na época, e com cara de mendigo abandonado, ensopado, pedira para entrar e ver meu amigo. Encostou-se no portão de entrada e permaneceu a me olhar. Perguntei a ele pelo Cara e logo ele me disse que ele já não morara ali e que seu apartamento estava a venda.

- Mas como estaria a venda? Ele amava aquele lugar, dizia que seus cômodos contavam tantas histórias que gostava de recordar. Como a vez que nos conhecemos e logo ele me apresentou sua casa, de como eu estava assustado, das noites de vinho e chapa quente e de como se vislumbrava ao me ver cozinhar...

Questionei o porteiro quanto a sua certeza e o mesmo apontou a placa de vende-se no seu andar. Ainda sim não acreditei em nada do que ele disse, imaginei a maior traquinagem do mundo e que no final iríamos rir deste desencontro.

Sem muito entender, liguei para casa de seus pais, que por sinal estava ocupado o tempo todo... Não poderia deixar esta inquietação, peguei meu carro e corri até a casa de seus pais para saber o que acontecera, onde ele estava.

Na porta, vi que as coisas não estavam dentro do normal, o jardim de sua casa não era o mesmo, a grama estava seca, mórbida e as flores que ali pairavam, simplesmente estavam murchas. Bati a campainha e fui logo recebido pela empregada que me olhou com a maior cara de pena possível. Guiou-me até a sala onde fui recebido pelo pai dele e sua irmã. Muito assustado eu perguntei pelo Cara, com um sorriso receoso e esperançoso para receber uma frase brincalhona. Obrigaram-me a sentar, mandaram a empregada buscar um copo com água e velozmente o tive em minhas mãos. Comecei a tremer, sabia que daquele momento não tiraria qualquer retorno positivo de sua família, já esperava o pior. Me desesperei.

Fui informado de que ele havia morrido há uma semana, enquanto retornara de uma viagem de carro proveniente do interior de Minas. Senti meu sangue descer todo para as pernas e por um minuto perdi o contato com o mundo, estava ali flutuando em plena sala de estar do meu amigo que agora era dado como morto, como se nunca tivesse existido.

- E agora? O que faria sem ele? Como continuaria minha vida? Mesmo sem conversarmos, ainda sim sentia sua presença, sabia que ele estava ali! Mas e agora? Um pó? Tudo se foi assim?

Logo questionei o porque de não ter sido informado antes, já que havia uma semana após o acontecido. O pai e a filha se olharam e não souberam informar. Calei-me por um longo período. O pai, com os olhos cheios d’água, me abraçou, levantou e subiu as escadas, sabia que não poderia controlar seu choro e não o queria demonstrar a mim, graças a figura de homem que deveria perpetuar ali naquela família. Sua irmã, com olhos de consolo e fervorosos de água, apenas me amparou.

Ela me disse que ele não sofreu, que havia morrido em pleno impacto com outro carro que vinha na contramão, que o funeral aconteceu as pressas e seu corpo havia sido cremado e jogado em seu lugar predileto, que por sinal ele me levou lá uma vez, bem no topo de um mirante particular, que ele nomeara “Nosso”. Não agüentei a pressão naquele momento, chorei muito, perdi o controle e quase o ar. Não era justo! Nada é justo!

Não sei se foi para me confortar ou para me deturpar ainda mais, mas ela me disse que antes dele viajar, o encontrou no computador dela, lendo o post que fiz para ele em meu blog, com lágrimas escorrendo pelo rosto, disse que estava criando coragem para voltar a falar comigo, que havia feito a maior burrada em sua vida e que abrir mão de mim por uma escolha idiota que fiz não era justo.

Não acreditei no que ouvi, em nada, para falar a verdade. Meu amigo, meu melhor amigo, agora estava morto e nunca mais o veria, seus olhos amadores, seu rosto aconchegante, seu abraço amistoso, suas mãos afagando meu cabelo, acalmando-me das escolhas equivocadas que me descontrolavam, simplesmente se tornaram pó e jogados em um lugar para simbolizar uma mera lembrança.

Jesus.

Tudo dói por dentro, mas não sai mais nada para fora. Sem me despedir, sai correndo, peguei meu carro e vim para casa. Não havia ninguém aqui, então, chorei o quanto podia, bebi grande parte das bebidas que continham álcool e fui dormir, não queria ver as próximas cenas desta m*&*#.

Meu Deus! Como isto pôde acontecer?! O Cara que tanto me ajudou! Que me amava de paixão, que mesmo sob diversas condições, me manteve sob suas asas, me protegendo contra qualquer um. Ele iria voltar a conversar comigo se estivesse vivo hoje! De verdade!

Ainda não acredito que esteja morto. Não mesmo. O Cara que me flertou no restaurante há anos atrás, que foi o único que me confortou no enterro do meu avô, que me levou a lugares que nunca irão me levar, que sabia o que eu pensava, que me ensinou a comer Gummy Bear assistindo a filmes de romance, estava reduzido a pó.

Ainda, deitando na cama antes de dormir de embriaguez, lembrei exatamente de como havia sido o dia em que ele me levou no lugar que intitulava “Nosso”. Foi quanto ainda estávamos tendo um relacionamento amoroso, ele pegou seu carro no sábado pela manhã e logo ouvi sua buzina de dentro do meu quarto. Levantei correndo e fui à porta. O Cara! Arrumei-me e pulei no banco do passageiro, ao seu lado, fomos a destino algum, pelo menos eu pensava. Mas no fim das contas paramos em uma cidadezinha daqui de Minas mesmo e curtimos todo o dia no centro da cidade. Percebi que ele havia comprando diversos quitutes e um pano. No fim da tarde, entramos no carro e fomos para um local cuja vista era estrondosa. Paralisei-me ao descer do carro de tão surpreso e impressionado pela vista que observara. Retirando o que havia comprado do porta malas, estendeu um sorriso vigoroso e chamou-me para sentar-se próximo ao desfiladeiro a seguir, encima da grama verde que cobria o local. Ele estendeu o pano no chão, abriu as guloseimas que havia comprado e me ofereceu tudo na boca. Enquanto isso, o lindo e único Sol, se desfazia através das montanhas, a coloração vermelha começara a tomar conta das nuvens e a brisa vinha em meu corpo agradavelmente. Foi o momento exato em que o admirei, quase deitado no pano, apoiado em seu braço direito, ele me flertou por um tempo e depois disse que me amaria para sempre, permaneceu em silêncio a me olhar. Desejei que tudo aquilo durasse para sempre...

3 comentários:

Anônimo disse...

Pesares!

A vida às vezes é estranha e imprevisível, então acho que vale a pena repensar nossas relações. Dar importância ao que é de fato importante. E não exitar em pedir desculpas e tentar ficar bem com quem vale a pena (mesmo que a pessoa esteja errada). A vida é pequena pra ficar odiando, cultivando mágoa, culpando e julgando. Uma coisa que aprendi nesses vinte e poucos anos é que meu orgulho não é mais importante que a minha felicidade e paz de espírito.

Fica bem. :)

http://letras.terra.com.br/christina-aguilera/1694256/traducao.html

Afrodite disse...

Meu amigo,

fico sem palavras ao ler esse texto seu, me sinto gelada e sei que gostaria de nenhuma formar esta em seu lugar, msm sabendo o que aconteceu nos ultimos dias essa noticia veio me assutar... Me sinto atada como na tempestade de sabado...
Mas sei que em quauqer momento estou aqui, para te confortar e ama-lo cada dia mais...

Meus sentimentos...

Anônimo disse...

Meu corpo gelou ao ler este poste, percebi uma dica para ler teu blog quando conversamos domingo, mas DEFINITIVAMENTE, Não esperava por isso.
Pelo que me conhece sabes que se tem algo que me desestrutura são os meus amigos, são os meus maiores tesouros e minha casa, Deus ainda não me retirou nenhum, não sei como lidaria e prefiro nem pensar!
Meus olhos se encheram de água quando me dei conta de por quem você sangrava, já quase perdi minha segunda alma, irmã, melhor amiga e primeiro amor. Sei das semelhanças das histórias, e me colocar em seu lugar me faz deslumbrar a loucura…
Quando quiser falar sobre, estarei prontamente aqui. Um forte abraço, e um crepúsculo lindo desejo a ti.
LEZADA.COM