sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

As Melhores Estimas a Ele


Hoje, acabada a aula que eu havia lecionado na Faculdade, no caminho para casa, não sei o que me ocorreu, mas me veio um “estalo” na cabeça, um “frio” na barriga e a primeira coisa que veio em minha mente foi a música “Jack” , sim, esta que deve estar tocando aqui agora.

Nossa! Mas quantas lembranças! Liguei o Spotify do celular, conectei brevemente ao rádio do meu carro e quando o som começou a tocar, fui forte, resisti ao choro, um choro de saudade do Fotógrafo, do momento em que nos conhecemos e a vida naquela época. Tudo muito mais fácil, éramos muito infantis, eu com sentimento tão puro e besta, fora a ingenuidade de buscar por um amor verdadeiro e etc...

Sabe que a letra dessa música lembra mesmo nosso relacionamento? Ele apareceu do nada, foi rápido ao me conquistar, permaneceu por pouco tempo em minha vida e nos demos um “tiro” no meio do caminho, “matando” nosso relacionamento. Mas ele me fez sentir algo que até hoje marca muito, que me faz falta: a simplicidade. Ele era um cara interiorano, havia acabado de descobrir sua sexualidade e escondia isto de todos de sua pequena cidade, quando vinha para a capital me encontrar, a conversa era outra. Com um rosto de menino, sotaque mineiro carregado, simples e olhar sincero (pelo menos transpôs isto), ele me conquistou de primeira. A cada encontro eu ficava mais apaixonado, queria viver ao lado dele para sempre e o amor - Ou apaixonite, não é? - era incondicional, ficava “ceguinho”.

Para se ter uma ideia, uma vez ele veio aqui na capital e saímos para uma danceteria hetero e beijamos na frente de todos, aquele "beijasso" de horas a se admirar no meio da pista, na época, a diversidade sexual estava não muito popular e nem muito aceita pela sociedade de modo geral, não era comum! Aí, imaginem o que todos do lugar fizeram???? Bom, a verdade é que não me importava o que pensavam ou falavam, gostava tanto dele que era capaz de fazer muita coisa que hoje penso muito antes de fazer.

Confesso que quando olhava para ele, lembrava de um filme que assisti em 2008 chamado Novemberkind, um dos personagens era a cara dele, era um rapaz bem claro, com olhos castanhos escuros, cabelos rentes ao couro cabeludo, uma boca voluptuosa e vermelha sangue e um olhar tão impressionante que dava para ficar apreciando-o durante horas. Digo, um olhar que transpunha a mim o sentimento melhor que ele tinha.

- Nossa, Mister Thinker.... Mas você está encalhado até hoje e por isso pensa no Fotógrafo?

Na verdade não, fazem quase quatro anos que me relaciono com um cara que me completa como um adulto, quase nunca discutimos (4 vezes em quase quatro anos), confiamos um no outro de “olhos fechados”, o vejo como o mais bonito, inteligente, amoroso, companheiro, etc. Porém, os sentimentos são diferentes, este é um amor adulto, algo composto por limites, racionalidade e nossos contextos sociais (dinheiro, família, nome a zelar, etc...). Não dá mais para sair beijando na rua, andar de mão dada, fora as cicatrizes que adquirimos com o tempo e fazem a gente perder grande parte da ingenuidade, além disso nosso pensamento, com a idade, se torna sagaz, frio e calculista, além de pretensioso e, às vezes, preguiçoso. O sentimento que tinha pelo Fotógrafo era algo mais desenfreado e muito ingênuo, sabe? A saudade era porque eu era mais livre e fazia, falava o que queria, não me importava com luxo, nem lugares requintados para se ir, sabia escrever e transpor minha essência, mesmo com erros ortográficos (Não posso ignorar isto... Mas haviam erros porque nunca gostei de revisar texto meus, mesmo minha dissertação de mestrado eu não fiz isso, morria de preguiça... rs).

Há quase quatro anos atrás o vi novamente pelo mundo afora, já não mais inocente, estava com o olhar diferente, condutas opostas ao que conhecia, percebi que as galinhas já haviam provado da sua carne. Entristecido depois de constatar tudo isso e internamente abalado, conversamos um pouco e logo nos despedimos. Era o fim do Fotógrafo para mim, quem eu achava que teria os resquícios do jovem que me fez ir em direção ao caminho para a Lua, simplesmente começara a esmaecer, a se tornar um desconhecido.

Embora estas constatações, ao menos o meu sentimento por ele ainda perdura, as lembranças de nós dois andando pela Lagoa numa tarde na cidade, o despertar com ele ao meu lado, os diálogos agradáveis que tínhamos durante horas... Foi muito pouco tempo, mas tudo muito denso, cheio de detalhes marcantes que me fazem hoje ter a vontade de abraça-lo saudosamente e dizer ao pé do seu ouvido “Quanto tempo eu não te via, Jack! Estimo o melhor a você”.


PS: Obrigado pelos comentários do post anterior, foram de grande valia e me fizeram voltar a pensar em meu blog que completa quase uma década.

Um comentário:

Leandro disse...

E aí Mr. Thinker! Demorei um pouco para ler sua nova postagem (e você demorou anos).
Pois é, amadurecemos e perdemos muito da alegria que era nosso combustível. Passamos a olhar de cima. Sei lá, acho tão complicado crescer! A vida adulta às vezes é insuportável. Eu quando voltei pra faculdade dei uma boa rejuvenescida, mas ainda assim teimamos em nos conter... Talvez devamos deixar de nos preocupar com os outros. Abraço!